quarta-feira, 4 de agosto de 2010

PROJECTO GUADIANA 2010 (3º DIA)



Finalmente consegui um bocadinho para fazer a crónica do nosso último dia do Projecto Guadiana... espero que não tenham "perdido o fio à meada", de qualquer maneira é só procurar do lado direito da nossa página no arquivo do blogue, o resumo dos outros dois dias e recordar, rever ou começar.


Dia 13 de Junho de 2010


Mina de São Domingos - Vila Real de Santo António 80 km


Neste dia começamos tal como tinha-mos acabado o anterior... a pregar partidas ao Hipólito e ao Nuno que tinham ido dormir para o balneário dos visitantes, antes de nos termos ido deitar amarramos uma corda ao fecho da porta do balneário onde dormiam estes dois CicloBeatos... e com receio que acontece-se algo durante a noite e ficassem presos, resolvemos, acordar primeiro do que eles e amarrar a dita corda à vedação do campo de futebol... dito e feito, quando os dois acordaram e foram para sair estavam presos... e nós os do balneário do visitado a assistir envoltos em barrigadas de riso... grandes patifes... logo pelas 5.00 da matina é dose.



O curioso é que o Nuno na véspera tinha dito ao Hipólito que ia ligar uma mangueira pela nossa janela do balneário e de manhã acordávamos com o chão todo molhado e quem sabe mais coisas molhadas... mas o Hipólito desaconselhou-o de fazer isso argumentando que era "lixado" e tal... e tal..."

Arrependeram-se os dois de não terem feito... para a próxima penso que não escapare-mos... é assim cá se fazem, cá se pagam...



E ainda faltava o Nuno calçar as suas luvinhas e sentir aquele liquido viscoso nas suas secas mãozinhas, o que veio a acontecer a seguir... o "desgraçado do Nuno" procurou logo de me dar o famoso beijo Siciliano imortalizado em vários filmes com Padrinhos à mistura e que significa qualquer coisa como... a vingança será terrível.





Neste último dia da nossa aventura, finalmente o Astro Rei, resolveu aparecer logo pela alvorada para nos saudar, prenunciando um dia maravilhoso e cheio de aventura.



Eram por volta das 6.20 quando arrancamos de Mina de São Domingos com destino á nossa primeira paragem do dia no Pomarão, iríamos seguir o percurso do extinto caminho-de-ferro de extracção de minério (pirite) que o levava até ao caís de embarque e seguia em navios para Inglaterra e para outras partes da Europa.

*Nota do Editor* - Ver a História da Mina de São Domingos


O nosso percurso começou logo com passagem por uma ponte (uma das raras ainda de pé), para irmos na direcção da Achada do Gamo, passando por várias lagoas de águas ácidas, a água é abundante nesta zona, com várias lagoas e represas que certamente serviam para a lavagem do minério, por isso a razão das águas serem tão escuras, onde se encontra parada (certamente se alguém lá caí-se dentro ficava dissolvido nelas)... Estou a exagerar é claro... mas com certeza ninguém gostaria de ter contacto com estas águas.







Depois chegamos ao complexo da Achada do Gamo... este local é digno dos melhores cenários para Westerns, Star Wars ou Dune’s...



A destruição do complexo e a aridez desta zona transporta-nos para os cenários da ficção que nos habitua-mos a ver nos filmes... pena ainda ser muito cedo e as fotos ficaram um pouco escuras... para á próxima vez, ficam melhores.




A seguir vieram as pontes destruídas... eram tantas que perdemos a conta, tendo de contorna-las, sendo que algumas eram de difícil passagem, obrigando-nos a descer por barrancos bem inclinados... também evitamos cerca de sete pontes, desviando o nosso percurso por algumas centenas de metros.


A primeira perto de Santana das Cambas, ficou para a posteridade, pois alguns valentes CicloBeatos tentaram contorna-la a pedalar e deu trambolhão colectivo, e o fotógrafo a rir...



Para mostrar que trabalhamos ao Domingo ainda ajudamos a puxar alguns vagões com minério, depois vieram as cercas novamente e o nosso Engenheiro de Cancelas, mostrou o porquê de ser diplomado com distinção (Mário o "Cancelas Man"), hoje para variar ao Nuno deu-lhe uma dor de barriga (agora já sei porque toma café...) e teve de improvisar um W.C. "under the stars".






Chegamos à zona dos túneis os primeiros eram curtos e próximos da estrada, mas depois foram surgindo outros bem mais compridos e alternando com pontes partidas o que nos levou a gastar algum tempo para transpor estes obstáculos... quase naturais, devido ao seu avançado estado de degradação.








Num dos túneis cruzamo-nos com um eremita e pelo seu aspecto (longas barbas e bastante sujo) já deve habitar por aqui há muito tempo sem ver a civilização, este por sinal era um dos maiores túneis em que passamos, sendo que dentro dele, não se avistava a saída, os resíduos de enxofre eram bastantes pelo chão assim como a água (das chuvas dos dias anteriores)... Também os morcegos por aqui eram às centenas, observamos inclusive vários ninhos no tecto dos túneis.








Nas saídas dos túneis maiores a água era bastante no chão e a vegetação (muitas silvas), quase nos cortava a passagem (acho que na próxima levo a catana)... Nestes túneis existem respiradores verticais para o topo do monte, tornando assim o ar dentro deles, mais respirável, pois o odor a enxofre é por vezes bastante sentido (há quem diga que também se pode sentir o odor de cianeto "cheiro a amêndoas doces").

Não tenho grandes bases científicas, para dizer que o que se cheirava, era cianeto (já li em outros blogues, de quem passou por cá), mas fica aqui o alerta para quem se aventurar por estes lados (mais vale prevenir do que remediar).







Eram cerca das 9.00 quando chegamos ao Pomarão, demora-mos quase 3 horas para fazer 18 km, mas sem dúvida valeu a pena, e aconselho a fazerem este percurso a pé ou de bicicleta, de certeza que vão adorar, também acho, que o devem fazer fora da estação das chuvas... evita certamente muitos incómodos.




Para passar para a margem sul do Guadiana era necessário faze-lo de barco, o Zé António e o Fernando informaram-se e souberam que só era possível faze-lo, por volta das 9.30, resolvemos então comer, qualquer coisinha... mais uma patifaria feita ao Nuno... sandes sem carne... grandes patifes!














Eram 9.30 quando embarca-mos num pequeno bote, que para nossa surpresa nos levou os quatro, mais as bicicletas, de uma vez, ficam a saber os possíveis interessados que se dá o que se quiser ao Sr. para atravessar o rio, nós demos 20 euros... 5 euros por pessoa.




E ai fomos nós com o Zé e o Viegas a filmar a nossa travessia... e já a ver qualquer coisa "cintilante" na outra margem... devem ser de Olhão e jogam no Boavista!


Ao chegarmos à outra margem deparamos com uma sereia de biquíni vermelho deitada em pleno caís... e até teve de se levantar para nós passarmos, agora sim estávamos a compreender o burburinho e risinhos na margem norte... mas nada que não tivesse de ser documentado para a posteridade, e eu como bom repórter... CLIC.




Depois uma parede para subir com cerca de 12% de inclinação, e que desde que chegamos ao caís que estava a ser comentada, mas que foi feita com elevada moral após o anterior encontro imediato, e foi sempre a subir durante alguns quilómetros até à aldeia de Mesquita.







Entramos então numa zona de reserva de caça grossa, possivelmente a javalis, pois têm vários sítios para espera com torres e muitos recipientes para alimentação de animais.

Imaginem olhar à vossa volta e tudo o que avistam são serras, não se avistando nenhum registo de civilização... linda não é?







Então esperem pelo que vêm a seguir... começamos a descer por um trilho que cada vez estreitava mais até que avistamos o que parecia ser um rio... ao longe, continua-mos a descer até que tivemos mesmo de desmontar pois era a pique e a vegetação cortava quase todo o caminho... foi quando pensa-mos que estávamos a alucinar... um ribeiro no fundo do vale e até se via o fundo de tão limpo.



Eram 10.30 quando pensávamos que tinha-mos morrido e ido para o céu...encontramos o paraíso... a temperatura rondava os 30º, o dia estava solarengo... não tinha-mos calções... fomos mesmo como viemos ao mundo, esta é a Ribeira do Vascão, é a linha imaginária que divide o Alentejo e o Algarve e para nós representou a recompensa dos infortúnios da nossa viagem... local a regressar de certeza absoluta.







Após o divertimento outra "parede" de diversos quilómetros para escalar, até ao Monte Vascão, onde fomos recebidos com grande hospitalidade por 3 simpáticas senhoras que nós deram água para encher os bidões, continuamos até Cortes Pereira e ao seu café "O Tempêro", tinha umas minis mesmo fresquinhas, depois desta manhã tão bem passada, nem ninguém pôde resistir a uma mini ou duas... bem fresquinhas.







O rumo seguinte era Alcoutim onde já estavam o Zé António e o Fernando á nossa espera... o caminho até lá foi alucinante, primeiro umas subiditas rápidas, mas depois foi sempre a descer e à abrir até bem perto da margem... depois sobe e desce e por fim o nosso segundo destino do dia por volta das 12.00.



Quando nos encontra-mos com os CicloBeatos de apoio estávamos eléctricos... com todos a falar ao mesmo tempo a querer relatar o que acontecera na ribeira do Vascão... ouve até quem disse-se, para o Viegas:

- " É pá! Têm alguma corda na carrinha? Se têm escondam-na, pois o Viegas mete-a ao pescoço... depois de ver as nossas fotos na Ribeira do Vascão"

Esta era a forma do Nuno relatar ao Viegas o que ele tinha perdido devido à lesão no joelho... e estava mesmo certo... foi um dos momentos altos do passeio, senão o mais alto, não sei como muitos portugueses andam a passear por fora do seu país, quando não sabem, nem imaginam, as maravilhas que temos por cá.

Juntem-se a nós, pois pretende-mos conhecer muitas delas.


Voltamos a comer qualquer coisinha e a beber mais umas minis... estavam mesmo fresquinhas e o tempo agora mais nublado, mas quente puxava por elas "quais barritas, quais isostar" minis nacionais é que estava a dar.

Ainda tivemos tempo para brincar com os passageiros de um cruzeiro no Guadiana acenando como se estivesse-mos num concerto rock, ao que fomos prontamente correspondidos... a moral estava em cima e bem alta.




Depois arrancamos, agora sempre em alcatrão até ao penúltimo ponto de paragem, na Foz do Odeleite, o ritmo ia alto e contamos sempre com o apoio muito próximo da carrinha que nos acompanhou neste trajecto e nos filmou (o Viegas nas funções de realizador), ao passarmos por Guerreiros do Rio o Nuno desejou os bons dias a alguns moradores locais que se encontravam às portas de casa... e para a nossa surpresa um senhor gritou-nos:

- "Vão trabalhar malandros!"

Gargalhada geral... esta foi mesmo das boas... tão longe de casa e ainda há quem nos conheça.






Às 13.15 resolve-mos parar na Foz de Odeleite, íamos em bom ritmo, mas houve quem quis parar um pouco para meter e vazar águas, tiramos as fotos ao cruzamento do Guadiana com o Odeleite e fomos para mais umas valentes subidas em alcatrão, passando por uma das nossas localidades preferidas (Alcaria)... Como se costuma dizer é só alcaria...





Mais umas subidas até bem perto da aldeia do Azinhal e depois grandes descidas até perto da Junqueira, depois Monte Francisco onde houve pequenas divergências quanto ao caminho (alguns já estavam em território que conheciam), resolvemos continuar a seguir o GPS.


A seguir Castro Marim com o maroto do Nuno a tentar e a conseguir tirar-me do sério... já sabia onde estava e vai de dizer por aqui, e por ali, tudo ao contrário do GPS...foi a sua vingançazinha ao que lhe fizemos nestes 3 dias, grande maroto.

Pelas 15.00 concluímos o nosso Projecto Guadiana 2010, com a chegada a Vila Real de Santo António, onde para minha grande surpresa, tinha a família à espera, depois almoçamos e ainda tivemos tempo de pôr o nosso espanhol em prática... devíamos estar afectados pela proximidade de Espanha.










No dia de hoje realizamos 80 km, tendo feito um acumulado de subidas por volta dos 900 mt.


Tiramos mais umas fotos para mais tarde recordar e após tomarmos o café, regressamos a Azeitão por volta das 17.00, já com a chuva por companhia... que apenas nos deu tréguas durante o dia de hoje enquanto pedalava-mos.












Eram 19.30 quando paramos na área de serviço de Aljustrel, para lanchar e necessidades fisiomijatórias. E para o Nuno fumar um cigarrito... finalmente (o homem é um animal de hábitos), ah ah... já me esquecia... ainda fiz mais umas patifarias ao dorminhoco do Nuno.





Chegamos a Azeitão, mais propriamente a Vila Fresca de Azeitão, pelas 22.00, após ter-mos feito cerca de 300 km a pedalar, com cerca de 3000 mt de acumulado de subidas, pedalando cerca de 30 horas, no total das 67 horas que durou o nosso projecto, fizemos "apenas" aproximadamente 500 km dentro da carrinha.

Para o ano de 2011, ficou designado que se irão apresentar vários projectos, sendo que o melhor será sujeito a sufrágio, o projecto escolhido será o que faremos perto do nosso terceiro aniversário (21 de Junho de 2011), fica desde já assinalado que a data final de entrega de projectos será até dia 31 de Setembro, a votação será feita no blogue, desde o dia 1 ao dia 31 de Outubro, e o Passeio Anual de aniversário será nos dias (10,11 e 12 de Junho de 2011) *.

*Nota do Editor* . Poderá existir alguma mudança de data, em virtude de alguma impossibilidade, por parte de algum CicloBeato interessado.

Até para o ano!

E não deixem de pedalar connosco e comentar no blogue.



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