domingo, 29 de dezembro de 2013

O FIEL CICLOBEATO


No que foi o último passeio de 2013, viria a acontecer mais uma daquelas lendas, que muitas vezes narro e em que os meus interlocutores, têm dificuldade em distinguir a ficção da realidade. Porém desta vez, tinha mais testemunhas e um artefacto para captar tão "sui generis" momento.
Inacreditável! Esta é mais uma daquelas histórias que me fazem querer sair aos domingos de manhã bem cedinho, para estar e pedalar com os meus amigos de aventuras. Ora vejam!

Começamos pelas 8.25 (mais 10 minutos de tolerância), a pedalar saíndo pela última vez neste ano de 2013, do local do costume. Na comitiva de encerramento anual, constavam as presenças do Hipólito, do Fernando, do Flávio e do Renato.
Numa gelada manhã, em terras de Azeitão, começamos por tomar a direcção dos Casais da Serra, fazendo o acesso por asfalto e aproveitando todos os poucos raios de sol, que timidamente se atravessavam no nosso gélido percurso matinal, para psicologicamente nos aquecermos.

Ao passarmos pelo café da localidade sobranceira à vertente poente da serra da Arrábida, dois cães, como habitualmente, saíram a correr e a ladrar no nosso encalço. Até aqui nada de novo, porém umas boas centenas de metros mais à frente reparamos que um dos animais continuava connosco, não na nossa perseguição, mais sim à cabeça do pequeno pelotão, e em tom de desafio, realizava ligeiras paragens e desvios, como se nos demonstra-se que nos éramos muito lentos para o seu andamento.

Achámos estranho o "bicho" ainda estar junto a nós, porém, pensamos que ao chegar à aldeia das Pedreiras certamente o canino, por lá ficaria.
Entretanto perto da dita aldeia, atravessou mesmo à nossa frente um enorme javali, que vinha dos lados da propriedade do Calhariz e que após passar por debaixo de uma vedação se encaminhou para terrenos das pedreiras do Risco. O nosso amigo de quatro patas, ao ver tal presa, não se fez rogado e encetou uma possível perseguição, que viria a ser gorada rapidamente, pois o canino não reparou por onde o animal de grande porte atravessou a rede e tomou outro destino, que lhe viria a ser fatal nos intentos da tentativa de captura, pois deparou-se com um portão pela frente.
Caçada abruptamente interrompida, pois lá quis a sorte, que o nosso amigo continua-se a sua jornada épica na nossa companhia.

Para nossa surpresa no cimo da aldeia das Pedreiras e apesar da velocidade que tomamos a descer, o animal continuou na nossa perseguição e acabou por entrar e atravessar Santana no nosso grupo.
No seio da comitiva começou a instalar-se a incredibilidade e o receio do animal vir a magoar-se ou a provocar um acidente, pois o atlético ser, quadrúpede, corria ora ao nosso lado, ora à frente, mas na faixa de rodagem contrária... Certamente tirou a licença de condução em algum país da "commonwealth".

Não!... O caso não estava para brincadeiras, apesar de no Zambujal o amigo "canito" ter literalmente invadido um quintal repleto de galináceos e afins, com penas. O que como podem imaginar para além da nossa preocupação pelo sucedido, nos levou quase às lágrimas de tanto rir. Ainda por cima a dona dos animais com penas, estava à porta incrédula a assistir à despreocupada evasão de propriedade.
Com direito a fazer voar enorme quantidade de plumas pelo ar... Só visto!
No entanto o nosso amigo Flávio com a calma que lhe é reconhecida. E imaginem... A pedalar... Perante o olhar da surpreendida senhora, pronuncio esta sábia e firme exclamação:
-Anda cá Bobi!

Desculpem!... Aí não, posso mais... Já estou em lágrimas outra vez!...

E foi neste frenesim constante que seguimos até à estrada do Facho da Azoia, onde ao seguirmos para o atalho dos Pinheirinhos e ao não vislumbrar-mos o nosso perseguidor, pensamos... Ele já não vêm!
Errado... Passados alguns segundos... Aí estava ele outra vez, em alta rotação.
Posto isto exclamámos em uníssono: -Vai connosco até ao Cabo!
E assim foi a pedalar... Desculpem! A correr com o grupo, e já com direito a nome de guerra "GPS", "GP" para os amigos. Acompanhou-nos até ao farol do Cabo Espichel.
Por entre encontros com outros canídeos e até equídeos, ao que o pastor de serviço no grupo, o Flávio, tratava sempre de o relembrar, com uns fortes assobios, que tinhámos como objectivo comum chegar ao Cabo. Lá continuamos a nossa epopeia matinal, e após duas horas. Pois baixámos a nossa rotação, para não estoirar o animal. Chegámos ao objectivo de fim de ano.

A partir daqui o nosso pensamento era transportar o "GPS" em segurança e regressar com ele ao local de onde nos tinha começado a acompanhar.
Ainda assim andamos nos trilhos das imediações da Foz e da Azoia com o nosso amigo, a acompanhar-nos sempre e a transpor connosco os inúmeros húmidos e enlameados obstáculos que se nos depararam pela frente.

A partir dos Fornos, voltámos ao asfalto e as nossas preocupações voltaram à tona, pois o "GPS", insistia por conduzir à maneira britânica.
O que o levou a estar bem perto de uma grave colhida na localidade da Aiana, pois a estupidez humana, e ainda por cima ao volante é imensurável... Enfim! Não vos vou maçar com retóricas, hoje era um dia feliz e continuou a sê-lo.

Sempre com a atenção à sua segurança no atravessar de localidades e de faixas de rodagem com mais movimento, lá atingimos, terrenos menos povoados e sem asfalto, porém faltava a prova final para o "GP".
Ao chegarmos a um pinhal perto da Carrasqueira, um Pastor Alemão resolveu fugir das imediações do seu dono e tentou atacar o nosso fiel amigo. Ao que o "GP" correspondeu com uma série de esquivas fantásticas, ao melhor estilo CR7, evitando o pior, por diversas vezes.
E levando o surpreendido e enorme cão à desistir de continuar os seus intentos... Ainda bem pois estava na iminência de levar com uma valente pedrada.

Continuámos. Não sem antes constatar-mos uns metros mais à frente que hoje deveria ser, o dia do cão para aqueles lados, pois passamos por várias pessoas, num espaço de 200 metros a passear os seus "Bobis", só que como Moisés separou as águas do Mar Vermelho, estes afastaram-se para deixar passar o "GP" e em forma de tributo lhe prestarem a devida homenagem em sentido.

Mais uns quilómetros à frente nos Areais, tivemos de abrandar bastante o ritmo à espera do "GP", que continuava a correr, mais lento, era uma realidade, mas em relativa boa forma, que foi sendo doseada ao longo do caminho com periódicos abastecimentos e arrefecimentos nas poças de água que encontrava.

Cerca das 13.00 horas chegamos a Azeitão. o Hipólito foi com o Flávio ao local de partida, onde se despediu deste último, e regressou à aldeia de Irmãos com a carrinha, onde eu e o Renato o aguardávamos com o "GP", evitando levar o nosso amigo para o centro de Vila Nogueira.
Metemos o "GP" na carrinha despedimo-nos do Renato, e lá fomos devolve-lo à procedência.
Chegados aos Casais da Serra, deixamos o nosso grande amigo e fiel CicloBeato, nas proximidades de onde tinha começado a perseguição, que acabou transformada numa maravilhosa e mágica manhã de aventuras, para o grupo.

Realizamos nós 55,8 km com cerca de 600 metros de altimetria e realizou o "GP" cerca de 50 km, o acumulado de subidas andou muito perto dos 600 metros também.
Dando uma lição a muitos pseudo-desportistas no geral e a nós.
Meus amigos na próxima reencarnação quero ser como o "GPS".
Até para o ano e boas aventuras, connosco, "sem nosco" ou com o "GP".













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