PROJECTO GUADIANA 2010 (1º DIA)
Sei que já estavam desesperados por saber as novidades e peripécias do nosso passeio anual de aniversário (21 de Junho), peço desculpa por ter retardado a vossa curiosidade, mas infelizmente, o tempo que me têm sobrado para escrever é muito pouco, mas como ficou a promessa de que iria ser esta semana ... cá vai !
Tudo começou há alguns meses, como sabem, numa
votação neste blogue, em que a descida do Guadiana ganhou quase por unanimidade,
desde esse dia dediquei-me a cada tarefa deste projecto como se da minha própria
vida se trata-se ... sei agora que realmente valeu a pena ... pois foram três
dias maravilhosos, que ficaram excelentemente preenchidos com a companhia e
amizade de mais 5 pessoas que sempre acreditaram neste projecto e também
dedicaram grande parte das suas vidas para o êxito do mesmo, nesta linhas que a
partir de hoje escrevo ... sabendo de antemão que tudo o que seja escrito aqui
neste espaço, não conseguirá descrever o que se passou nesta aventura
indescritível, que se denominou Projecto Guadiana 2010.
Dia 11 de Junho de 2010
Dia 11 de Junho de 2010
Elvas - Mourão 103Km
Foi por volta das 0.30 do dia 11 de Junho
(Quinta-feira), em Vila Fresca de Azeitão, que começaram os preparativos para o
arranque do nosso Projecto, quando o Nuno Silva se juntou a mim para carregar a
carrinha (gentilmente cedida pelo Grupo Desportivo e Social da VOLVO), após
termos arrumado todo o material de suporte e bagagens pessoais, na viatura,
fomos para a surpreendente e rápida (sorte de principiantes) tarefa de
acondicionar as bikes no atrelado ... sinceramente fiquei surpreendido por
ter-mos posto 5 bikes de diferentes tamanhos à primeira tentativa no atrelado
(no regresso da aventura isso não aconteceu ... mas isso a seu tempo será
contado), depois de tarefas concluídas ... as primeiras minis para os
trabalhadores.
Por volta das 2.00, chegaram os restantes
elementos desta nossa aventura, o José António Pombo (CicloBeato de apoio), o
Hipólito Sequeira, o Fernando Viegas e o Mário Jesus, que ainda ajudaram a
engatar o atrelado (devidamente) na carrinha, depois esperamos até à hora que
estava marcada para o arranque e que foi às 3.00 de Vila Fresca de Azeitão com
destino a Elvas.
Optando por
entrar na Auto-Estrada em Palmela e sempre com boa música e excelente
disposição, até a paragem para desentorpecimento dos membros inferiores, na área
de serviço de Montemor-o-Novo, paragem esta que também foi dedicada ao
enchimento do bandulho por alguns CicloBeatos mais esfomeados, assim como à
apreciação da fauna local, eram por volta das 4.30.
Eram 6.00 quando avistamos o nosso ponto de
partida do Projecto Guadiana 2010, o aqueduto de Elvas, a manhã apresentava-se
com bastantes nuvens e prometia chuva, e após prepararmos as nossas montadas
arrancamos eram 6.25, rumo ao nosso primeiro objectivo do dia, na
Juromenha.
Logo à saída de Elvas começamos a descer
bastante entrando na vasta "planície" Alentejana (juro que, se ouço alguém dizer
que o Alentejo é plano lhe enfio com a bike em cima) ... começou logo aqui o
nosso calvário de saltar cercas e portões, já para não falar da chuva miudinha e
insistente, para começar não demos com um trilho que se encontrava coberto de
mato e tivemos de saltar a primeira de muitas vedações, depois entramos numa
herdade em que fomos interpelados por um senhor que nos alertou para deixarmos
as portas das vedações sempre fechadas por causa do gado bovino ... muita
sinceramente até aqui nunca pensei cruzar-me com gado bovino (no Google só tinha
visto ovelhinhas ...)
Eis que surgiu o nosso primeiro contacto visual
com o Rio Guadiana perto de um velho e abandonado moinho de maré, pena estarmos
dentro de um enorme cercado cheio de vacas e com bezerros para proteger, o que
não nos deixou realmente à vontade para fotografar ou sequer parar ... aqueles
olhares fixos das vaquinhas intimidavam um pouco ainda por cima quando são 600
quilos de carne e a cerca de 2 ou 3 metros de nós ... mas não se preocupem entre
nós estava um antigo "toureiro" o Nuno, que se mandava direito a elas sem pensar
nas consequências ... mas por vezes também tinha de se desviar pois os bichinhos
intimidam mesmo ... só nos pacotes de leite e no Talho do nosso amigo Zé Vieitos
é que não nos metem medo algum.
Mas o pior estava para vir ... chegamos a outro
cercado mesmo muito grande ... maior que o anterior e com uma manada com mais de
duzentos animais, só para terem uma ideia havia machos a tentar cobrir e várias
fêmeas com crias para proteger ... e logo por azar o track do GPS mandava
atravessar mesmo pelo meio de onde estava a manada ... de um lado do cercado
estava o rio com as suas margens bem mais cheias do que o costume (Inverno
chuvoso), e do outro lado uma serra que não se sabia onde acabava ...
fizemos a primeira investida pela esquerda mas a
manada estava agitada e mugiam bastante quando nos aproximávamos ... resolvemos
dar a volta pela Serra retrocedendo ... mas eis que a manada se deslocou para
sul e lá fomos nós atrás dela, pelo trilho do GPS mas sempre com um olho nas
vacas e outro nos bois ...
Ainda tivemos de saltar mais umas vedações e
dois pequenos ribeiros a vau, o Guadiana estava mesmo muito cheio e o track do
GPS estava coberto por água tivemos de andar cerca de 50 metros ao lado e a
saltar quase todo o tipo de obstáculos naturais e artificiais ... mas passamos
... perdemos aqui quase uma hora, em relação ao previsto mas conseguimos passar
a nossa primeira e grande dificuldade do percurso ... unidos e em formação
(excelente forma de demonstrar força e união) para fazer frente as largas
centenas de vacas que se nos depararam quase até à Ponte da Ajuda.
A seguir as vaquinhas, deparamos com um pomar
enorme e vedado e com uma tabuleta a dizer Propriedade Privada - Proibida a
Entrada, mas resolvemos que se com as vacas passamos, não iria ser uma placa que
nos derrotaria e como estávamos a ficar bastante atrasados, saltamos e entramos
no enorme pomar cheio de estufas e fruta, em que os empregados à nossa passagem
e aceno, se olhavam entre eles e se questionavam " de onde saíram estes!?
"
A seguir avistamos o Castelo da Juromenha no
horizonte, pena e que novamente o Guadiana nos cortou o caminho, e tivemos de
procurar uma saída alternativa por dentro de propriedades privadas e cercadas,
até que nos apareceu uma surpreendida e amável senhora que nos indicou o caminho
para fora da propriedade, fomos para o alcatrão e direitinhos ao nosso ponto de
encontro com o Zé António que já estava a achar grande a demora, chegamos à
Juromenha às 10.00 quase com hora e meia de atraso em relação ao previsto ...
mas que se lixe o previsto, o essencial foi que chegamos e bem...
Para começo da nossa aventura não foi nada mau,
matéria para contar aos nossos netos não faltou, hoje confesso que foi bastante
atribulada, mas agora que estou sentado em casa até tenho saudades das vaquinhas
e de saltar cercas ( ... vamos lá outra vez, pessoal !!!??? )
Na Juromenha deixamos o Zé António e desta vez
também o nosso camarada Fernando, que já foi lesionado para o passeio e só
completou esta 1ª etapa de hoje com algum esforço, de louvar também o facto de
que apesar de se encontrar incapacitado com uma lesão muscular ... mesmo assim e
pondo em risco a própria integridade física, alinhou à partida e mais do que
tudo esteve presente neste projecto Guadiana 2010 em corpo e em alma e
regozijando-se por estar com os seus amigos de pedaladas, atitude de louvar sem
dúvida ... mas ainda houve mais, a história não acaba aqui.
A 2ª etapa que nos levou até à Aldeia do
Rosário, teve pouca história, apenas posso dizer que pedalamos já sem o Fernando
e tentamos por todos os meios recuperar o tempo perdido na etapa anterior,
novamente com algumas cercas ao inicio, mas desta vez com muito poucas vacas e
só ao longe, foi um troço de inicio rápido mas com muito sobe e desce, até que
deparamos com um visual magnifico novamente junto do Guadiana, em que o rio se
une com os planaltos alentejanos num majestoso serpentear, e nós a pedalar por
uma descida bastante rápida junto ao rio e com visuais alucinantes, depois
contornamos um pequena enseada e voltamos a subir retomando o rumo do Rosário,
quase a chegar ao povoado encontramos um lindo pinhalzinho no alto de uma colina
a contrastar com o visual de sobreiros, azinheiras e oliveiras até então
observado, depois o nosso ponto de encontro junto à ponte sobre o rio Lucefecit
onde chegamos às 13.30.
Depois de breve pausa em que nos abastecemos de
chupa chups para adoçar as bocas, voltamos a contar com o Fernando que estava
danadinho para andar de bike e ficou nesta segunda etapa a tentar minimizar os
estragos causados pela sua lesão, e ai foi ele connosco ... raça de campeão ...
antes quebrar que torcer.
Depois de encontrar novamente as nossas amigas "obelhinhas do góógle" em mais uma cerca a passar, paramos para o "viciado" Nuno
tomar um café na aldeia de Monte Juntos, seguidamente apanhamos um estrada com
bastante pedra e durante vários quilometros, para massajar as nalgas ...
A seguir
passamos pelo convento da Orada, no sopé do monte em que se ergue a bonita vila
de Monsaraz, e devido ao atraso registado e aos já perto de 90 km realizados,
resolvemos subir até a Monsaraz pelo alcatrão evitando assim a terrível subida
em pedra inicialmente prevista, chegamos ao encontro com o Zé António pelas
15.45, após ter-mos feito a subida debaixo de chuva, de seguida visitamos a
bonita localidade e apreciamos a espetacular vista que esta nos oferece.
De Monsaraz até à ponte do Lago Alqueva é quase
sempre a descer e o CicloBeato de apoio só nos apanhou quase junto à ponte do
Guadiana, o Fernando sentia-se bem e em alta rotação ainda melhor, então vai de
dar ao pedal ... mas havia um CicloBeato a ficar para trás e tivemos de refrear
os ânimos.
Após a ponte surgiu uma placa na estrada que
dizia Mourão 1 km, mas acho que foi o quilometro mais longo das nossas vidas ...
pois o maroto do quilometro não acabava ... pelo contrário multiplicou-se
...
Chegamos a Mourão pelas 16.50, e logo procuramos
o nosso anfitrião o Presidente da Junta de Mourão o Sr. António Ferreira, que
gentilmente nos cedeu as instalações do Campo de Tiro onde ficamos
magnificamente acampados (acampados sim ... porque por aqui existem muitos
ciganos ...), de salientar o facto de que os CicloBeatos presentearam o autarca
com Moscatel e Tortas da nossa região de Azeitão.
Depois de alojados tratamos de tomar banhinho da
melhor maneira possível pois apenas havia um lavatório e dois bidés e a água
estava mesmo fresquinha ... o que conta nestes momentos é a boa vontade de quem
nos alojou e a nossa boa disposição, conseguindo transformar este final de dia
em mais uma celebração de vida, companheirismo e amizade.
Dia 12 de
Junho de 2010
PROJECTO GUADIANA 2010 (2º DIA)
Após termos realizado todas as tarefas de
limpeza e arrumos, forma-mos junto ao local onde se faz tiro para a já
tradicional foto de família (caramelada ou não o que interessa é que a malta
gosta e alinha sempre), depois fomos entregar a chave no sitio combinado com o
Sr. António Ferreira, a bomba da Galp ... de qualquer maneira tínhamos de lá ir
pois já não aguentávamos o Nuno a pedinchar por um café .. grande dependência
(eu digo ainda bem ...).
Eram 6.30 quando arrancamos após tirarmos as
últimas fotos em Mourão com o seu castelo ao fundo, o céu apresentava-se com
algumas nuvens e o tempo estava um pouco ventoso e frio, o que me levou a levar
emprestado o impermeável do Zé António (eu ia à verão ...), certamente também
iríamos encontrar o piso molhado pois tinha chovido bastante no fim do dia
anterior.
Depois passamos bem perto da nova aldeia da Luz
e atravessamos uma das pontes do lago do Alqueva na estrada que nos levaria para
o nosso primeiro destino do dia, Santo Amador, depois voltamos a ter contactos
imediatos com as nossas queridas obelhinhas do góógle no Monte Frechetes, elas
eram novamente às centenas, as nossas amigas vacas ... só que desta vez grande
parte estavam em cercados isolados da nossa passagem, aproximando-se de nós
pois, certamente pensavam que era hora da papinha e pensado que nos lha ia-mos
dar ... ainda fizemos um desviozito ... mas nada de anormal como no dia
anterior ... também já estávamos vacinados.
A seguir estava guardado o primeiro contratempo
do dia, e até estávamos a andar bem e a fazer uma boa média ... lama ... muita
lama ... imensa lama ... tivemos de atravessar um olival, a terra estava
fresquinha e solta e para melhorar a situação feno, muito feno (que fez efeito
tijolo), lembrem-se que antigamente se fabricava tijolo com lama e palha,
escusado será dizer que as bicicletas pararam ... tinham mesmo de parar, a lama
era tanta ... e ainda tivemos de andar mais de 2 quilómetros dentro desse olival
... só a limpar a lama estivemos cerca de 30 minutos, estávamos destinados a
sofrer neste projecto ...
Para continuar a nossa aziaga saga, perto do
Monte dos Parradinhos recebi uma chamada do nosso CicloBeato de apoio, a
comunicar-nos que tinha tentado chegar a Santo Amador pela estrada que
iríamos percorrer, e que ao chegar ao rio Ardila, viu-se obrigado a recuar pois
o leito do rio estava muito cheio o que impossibilitava a passagem da carrinha e
que certamente nós também não o conseguiríamos passar, rapidamente dei as
coordenadas do ponto onde nos encontrávamos, e o Zé António veio ao nosso
encontro.
O Zé António explicou-nos que realmente era
impossível passar o rio a vau (um nativo "Alentejano" disse ao Zé que
normalmente nesta altura dá para passar, mas este Inverno foi muito chuvoso e o
leito do rio estava bem mais cheio).
Eram 9.15 e após pequeno petisco rapidamente
improvisado ... resolvemos dar a volta, na carrinha, pela estrada da Amareleja e
Safara indo até ao cruzamento na saída sul de Santo Amador, onde retomamos o
nosso caminho pelas 10.00, desta feita, já a pedalar.
Pedalamos durante vários quilómetros por um
estradão cheio de pedra que nós massajou constantemente as nalgas ... passamos
por vários montes, até que em apenas menos de 1 km, voltamos a encontrar a lama
e novamente com palha e ... novamente muita ... voltamos a limpa-la numa estrada
de alcatrão que cruzava a nossa rota, opta-mos então por sair para o alcatrão
fazendo mais uns quilómetros mas contornando e evitando muita lama e muito tempo
a limpar a biclas ...
Foi então que entramos numa das maiores herdades
do país, a herdade dos Machados, resolvemos tirar umas fotos na casa senhorial
dessa herdade e numa escadaria, para nosso grande infortúnio o Fernando Viegas
que já não andava nada bem, voltou a dar um jeito ao joelho ... e ... adeus
projecto para ele, ainda tentou andar mais um pouco mas não dava ... como o
próprio relatou o joelho dava estalos ... resolvemos então ligar para o Zé
António, o vir buscar à Herdade dos Machados ... eis que para cumulo do azar
... tanto o Mário como o Hipólito que nunca se tinham separado do telemóvel,
deixaram ambos na carrinha ... (alguém de certeza nos rogou uma praga
...)
Ainda nos encontrava-mos a alguns quilómetros do
nosso próximo ponto de abastecimento ...a vila de Pias, pelo que tivemos de
improvisar ... arranjamos uma corda (gentilmente cedida por uma cerca da
herdade) e vai de puxar o Viegas até Pias, alterando o nosso percurso pois era
mais façil puxa-lo pelo alcatrão.
Quando chega-mos a Pias pelas 12.15, confesso
que ia completamente desterrado, desalentado e alheado de tudo, neste dia
tinha-nos acontecido quase um pouco de tudo, estava em muito más condições
psicológicas, pois tinha acabado de perder um dos pilares deste projecto, e
fui-me a baixo ... resolvi fazer a próxima etapa entre Pias e Serpa na
carrinha, pois não me encontrava bem, e ia prejudicar o ritmo dos meus colegas,
prontifiquei-me a instalar o GPS em outra bicicleta para continuarem a
viagem.
Mas os outros membros solidariamente com o
Viegas e comigo, concordaram em fazer-mos a etapa Pias-Serpa na carrinha e irmos
ao café Lebrinha para bebermos umas imperiais e recuperar a moral, e assim
foi.
Chegamos a Serpa pelas 13.00 e íamos
desalentados, mas com sede, depois de tomarmos umas imperiais e uns queijinhos
de Serpa no Lebrinha, recuperamos a moral ... todos ... menos eu, que preferi
continuar na carrinha a fazer companhia, ao Zé e ao Viegas que teve mesmo de
parar de pedalar, mas nunca abandonou os seus colegas e amigos ...
incentivando-os sempre, e a partir deste dia tomando conta da reportagem video a
partir da carrinha, saímos de Serpa rumo a Vale do Poço pelas 13.45.
A rapaziada a pedalar ia animada e na carrinha
também, eu encarreguei-me de tirar umas fotos em movimento ao pessoal, que se
depararam com uma subida que nunca mais acabava, entre Santa Iria e Vales
Mortos, eu comi umas batatinhas fritas para recuperar a moral e no fim da subida
(espertalhão ...) após assistência técnica dos meus amigos mecânicos Viegas e
Pombo (com direito a experimentar a maquina ... entrei novamente em acção e
cheio de força e speed ... (olha o gajo cheio de pica) diziam os outros
CicloBeatos, sentia-me outro após me ter alimentado de forma conveniente, e vai
de dar gás e impor um ritmo avassalador ao pessoal ... tão avassalador que nem
paramos no local de abastecimento em Vale do Poço pelas 14.50.
Saímos do alcatrão e desviamos na direcção do
Monte do Guizo, para continuar a nossa série de infortúnios neste troço até uma
abelha me deixou o seu ferrão na parte interior, do lábio inferior ... reparem
bem no azar ... temos de ir à bruxa (mas nada detém os CicloBeatos ...motivados
e obstinados), tive até de chamar apressadamente o Hipólito para tirar o
ferrão da beiçola ... mas continuando e a grande ritmo, passando e posando junto
do Menir do Guizo Pequeno, agora já estávamos perto do objectivo do segundo dia,
Mina de São Domingos, onde chegamos por volta das 15.50.
Como já estava destinado fomos recebidos
magnificamente no Campo de Futebol do São Domingos F.C. pelo Sr. Francisco, que
fez as honras da casa, na vez do Sr. António Calhegas (com quem tive o prazer de
contactar apenas telefonicamente, pois este nosso anfitrião encontrava-se
ausente em Mértola), estes dois amigos puseram as instalações do clube à nossa
disposição e ficamos deliciados com tão boa vontade, amabilidade e
hospitalidade, um grande bem haja! a estes senhores que nos receberam de braços
abertos, sem nunca nos terem visto ou sonhado que existisse-mos, cada vez menos
existem pessoas assim (infelizmente).
Mas nós não fomos de mãos a abanar ... levamos
moscatel e tortas da nossa região (estas não chegaram a ser entregues pois o
gelo que as envolvia, derreteu, mais rapidamente que o esperado e ... adeus
tortas morreram afogadas, em água e não em moscatel ... infelizmente), também
foram entregues guias da região de Azeitão assim como galhardetes.
Senão, reparem bem que o Sr. António Calhegas,
teve o cuidado de no dia 14, segunda-feira, me telefonar a perguntar se tudo
tinha corrido bem e se estava tudo do nosso agrado, convidando-nos a regressar
quando quisesse-mos ... eu, Fernando Oliveira, comprometo-me a regressar
novamente a Mina de São Domingos, brevemente nem que seja só para abraçar este
nosso amigo, e agradecer-lhe a sua amabilidade e disponibilidade (e para levar
as tortas).
Ao jantar para variar ... chuva ... e a nossa
sorte é que jantamos dentro de uma baliza com um plástico, que nos permitiu
abrigo e uma forma inovadora de saborear o jantar.
Já me esqueçia !!! Houve presunto pata negra
para a sobremesa.
Após a janta passeamos pela bonita localidade,
passando pelo seu parque de merendas, praia fluvial e pelo seu caracteristico
casario dos ex-trabalhadores da mina.
Depois fomos ao café-restaurante, S. Domingos,
beber café e afins, e aproveitamos para ver um jogo do mundial 2010 na África do
Sul, o Inglaterra-USA, que terminou empatado a um golo, constatando que por
aquelas paragens ninguém gosta lá muito dos Ingleses ...vá lá saber-se
porquê?
(ver história da localidade e da mina ...
prometo que vale a pena ).
De regresso as instalações do campo de jogos
Cross Brown, ainda houve tempo, antes de deitar para umas partidas aos colegas
que foram para o balneário do adversário, a seguir descanso dos ciclistas que o
dia de amanhã de certeza que iria ser inesquecivel ... previa eu ...
Não percam o resumo do terceiro e último dia da
nossa agitada aventura ... talvez para a semana se conseguir arranjar um
tempinho para escrever.
*nota do editor* - o que se vê nestas duas últimas fotos ... dentro das luvas ... é shampo!
PROJECTO GUADIANA 2010 (3º DIA)
Finalmente consegui um bocadinho para fazer a crónica do nosso
último dia do Projecto Guadiana... espero que não tenham "perdido o fio à
meada", de qualquer maneira é só procurar do lado direito da nossa página no
arquivo do blogue, o resumo dos outros dois dias e recordar, rever ou
começar.
Dia 13 de Junho de
2010
Mina de São Domingos - Vila Real de
Santo António 80 km
Neste dia começamos tal como tinha-mos acabado o anterior... a
pregar partidas ao Hipólito e ao Nuno que tinham ido dormir para o balneário dos
visitantes, antes de nos termos ido deitar amarramos uma corda ao fecho da porta
do balneário onde dormiam estes dois CicloBeatos... e com receio que acontece-se
algo durante a noite e ficassem presos, resolvemos, acordar primeiro do que eles
e amarrar a dita corda à vedação do campo de futebol... dito e feito, quando os
dois acordaram e foram para sair estavam presos... e nós os do balneário do
visitado a assistir envoltos em barrigadas de riso... grandes patifes... logo
pelas 5.00 da matina é dose.
O curioso é que o Nuno na véspera tinha dito ao Hipólito que
ia ligar uma mangueira pela nossa janela do balneário e de manhã acordávamos com
o chão todo molhado e quem sabe mais coisas molhadas... mas o Hipólito
desaconselhou-o de fazer isso argumentando que era "lixado" e tal... e tal..."
Arrependeram-se os dois de não terem feito... para a próxima
penso que não escapare-mos... é assim cá se fazem, cá se pagam...
E ainda faltava o Nuno calçar as suas luvinhas e sentir aquele
liquido viscoso nas suas secas mãozinhas, o que veio a acontecer a seguir... o
"desgraçado do Nuno" procurou logo de me dar o famoso beijo Siciliano
imortalizado em vários filmes com Padrinhos à mistura e que significa qualquer
coisa como... a vingança será terrível.
Neste último dia da nossa aventura, finalmente o Astro Rei,
resolveu aparecer logo pela alvorada para nos saudar, prenunciando um dia
maravilhoso e cheio de aventura.
Eram por volta das 6.20 quando arrancamos de Mina de São
Domingos com destino á nossa primeira paragem do dia no Pomarão, iríamos seguir
o percurso do extinto caminho-de-ferro de extracção de minério (pirite) que o
levava até ao caís de embarque e seguia em navios para Inglaterra e para outras
partes da Europa.
*Nota do Editor* - Ver a História da Mina de São Domingos
O nosso percurso começou logo com passagem por uma ponte (uma
das raras ainda de pé), para irmos na direcção da Achada do Gamo, passando por
várias lagoas de águas ácidas, a água é abundante nesta zona, com várias lagoas
e represas que certamente serviam para a lavagem do minério, por isso a razão
das águas serem tão escuras, onde se encontra parada (certamente se alguém lá
caí-se dentro ficava dissolvido nelas)... Estou a exagerar é claro... mas com
certeza ninguém gostaria de ter contacto com estas águas.
Depois chegamos ao complexo da Achada do Gamo... este local é
digno dos melhores cenários para Westerns, Star Wars ou Dune’s...
A destruição do complexo e a aridez desta zona transporta-nos
para os cenários da ficção que nos habitua-mos a ver nos filmes... pena ainda
ser muito cedo e as fotos ficaram um pouco escuras... para á próxima vez, ficam
melhores.
A seguir vieram as pontes destruídas... eram tantas que
perdemos a conta, tendo de contorna-las, sendo que algumas eram de difícil
passagem, obrigando-nos a descer por barrancos bem inclinados... também evitamos
cerca de sete pontes, desviando o nosso percurso por algumas centenas de metros.
A primeira perto de Santana das Cambas, ficou para a
posteridade, pois alguns valentes CicloBeatos tentaram contorna-la a pedalar e
deu trambolhão colectivo, e o fotógrafo a rir...
Para mostrar que trabalhamos ao Domingo ainda ajudamos a puxar
alguns vagões com minério, depois vieram as cercas novamente e o nosso
Engenheiro de Cancelas, mostrou o porquê de ser diplomado com distinção (Mário o
"Cancelas Man"), hoje para variar ao Nuno deu-lhe uma dor de barriga (agora já
sei porque toma café...) e teve de improvisar um W.C. "under the stars".
Chegamos à zona dos túneis os primeiros eram curtos e próximos
da estrada, mas depois foram surgindo outros bem mais compridos e alternando com
pontes partidas o que nos levou a gastar algum tempo para transpor estes
obstáculos... quase naturais, devido ao seu avançado estado de degradação.
Num dos túneis cruzamo-nos com um eremita e pelo seu aspecto
(longas barbas e bastante sujo) já deve habitar por aqui há muito tempo sem ver
a civilização, este por sinal era um dos maiores túneis em que passamos, sendo
que dentro dele, não se avistava a saída, os resíduos de enxofre eram bastantes
pelo chão assim como a água (das chuvas dos dias anteriores)... Também os
morcegos por aqui eram às centenas, observamos inclusive vários ninhos no tecto
dos túneis.
Nas saídas dos túneis maiores a água era bastante no chão e a
vegetação (muitas silvas), quase nos cortava a passagem (acho que na próxima
levo a catana)... Nestes túneis existem respiradores verticais para o topo do
monte, tornando assim o ar dentro deles, mais respirável, pois o odor a enxofre
é por vezes bastante sentido (há quem diga que também se pode sentir o odor de
cianeto "cheiro a amêndoas doces").
Não tenho grandes bases científicas, para dizer que o que se
cheirava, era cianeto (já li em outros blogues, de quem passou por cá), mas fica
aqui o alerta para quem se aventurar por estes lados (mais vale prevenir do que
remediar).
Eram cerca das 9.00 quando chegamos ao Pomarão, demora-mos
quase 3 horas para fazer 18 km, mas sem dúvida valeu a pena, e aconselho a
fazerem este percurso a pé ou de bicicleta, de certeza que vão adorar, também
acho, que o devem fazer fora da estação das chuvas... evita certamente muitos
incómodos.
Para passar para a margem sul do Guadiana era necessário
faze-lo de barco, o Zé António e o Fernando informaram-se e souberam que só era
possível faze-lo, por volta das 9.30, resolvemos então comer, qualquer
coisinha... mais uma patifaria feita ao Nuno... sandes sem carne... grandes
patifes!
Eram 9.30 quando embarca-mos num pequeno bote, que para nossa
surpresa nos levou os quatro, mais as bicicletas, de uma vez, ficam a saber os
possíveis interessados que se dá o que se quiser ao Sr. para atravessar o rio,
nós demos 20 euros... 5 euros por pessoa.
E ai fomos nós com o Zé e o Viegas a filmar a nossa
travessia... e já a ver qualquer coisa "cintilante" na outra margem... devem ser
de Olhão e jogam no Boavista!
Ao chegarmos à outra margem deparamos com uma sereia de
biquíni vermelho deitada em pleno caís... e até teve de se levantar para nós
passarmos, agora sim estávamos a compreender o burburinho e risinhos na margem
norte... mas nada que não tivesse de ser documentado para a posteridade, e eu
como bom repórter... CLIC.
Depois uma parede para subir com cerca de 12% de inclinação, e
que desde que chegamos ao caís que estava a ser comentada, mas que foi feita com
elevada moral após o anterior encontro imediato, e foi sempre a subir durante
alguns quilómetros até à aldeia de Mesquita.
Entramos então numa zona de reserva de caça grossa,
possivelmente a javalis, pois têm vários sítios para espera com torres e muitos
recipientes para alimentação de animais.
Imaginem olhar à vossa volta e tudo o que avistam são serras,
não se avistando nenhum registo de civilização... linda não é?
Então esperem pelo que vêm a seguir... começamos a descer por
um trilho que cada vez estreitava mais até que avistamos o que parecia ser um
rio... ao longe, continua-mos a descer até que tivemos mesmo de desmontar pois
era a pique e a vegetação cortava quase todo o caminho... foi quando pensa-mos
que estávamos a alucinar... um ribeiro no fundo do vale e até se via o fundo de
tão limpo.
Eram 10.30 quando pensávamos que tinha-mos morrido e ido para
o céu...encontramos o paraíso... a temperatura rondava os 30º, o dia estava
solarengo... não tinha-mos calções... fomos mesmo como viemos ao mundo, esta é a
Ribeira do Vascão, é a linha imaginária que divide o Alentejo e o Algarve e para
nós representou a recompensa dos infortúnios da nossa viagem... local a
regressar de certeza absoluta.
Após o divertimento outra "parede" de diversos quilómetros
para escalar, até ao Monte Vascão, onde fomos recebidos com grande hospitalidade
por 3 simpáticas senhoras que nós deram água para encher os bidões, continuamos
até Cortes Pereira e ao seu café "O Tempêro", tinha umas minis mesmo
fresquinhas, depois desta manhã tão bem passada, nem ninguém pôde resistir a uma
mini ou duas... bem fresquinhas.
O rumo seguinte era Alcoutim onde já estavam o Zé António e o
Fernando á nossa espera... o caminho até lá foi alucinante, primeiro umas
subiditas rápidas, mas depois foi sempre a descer e à abrir até bem perto da
margem... depois sobe e desce e por fim o nosso segundo destino do dia por volta
das 12.00.
Quando nos encontra-mos com os CicloBeatos de apoio estávamos
eléctricos... com todos a falar ao mesmo tempo a querer relatar o que acontecera
na ribeira do Vascão... ouve até quem disse-se, para o Viegas:
- " É pá! Têm alguma corda na carrinha? Se têm escondam-na,
pois o Viegas mete-a ao pescoço... depois de ver as nossas fotos na Ribeira do
Vascão"
Esta era a forma do Nuno relatar ao Viegas o que ele tinha
perdido devido à lesão no joelho... e estava mesmo certo... foi um dos momentos
altos do passeio, senão o mais alto, não sei como muitos portugueses andam a
passear por fora do seu país, quando não sabem, nem imaginam, as maravilhas que
temos por cá.
Juntem-se a nós, pois pretende-mos conhecer muitas delas.
Voltamos a comer qualquer coisinha e a beber mais umas
minis... estavam mesmo fresquinhas e o tempo agora mais nublado, mas quente
puxava por elas "quais barritas, quais isostar" minis nacionais é que estava a
dar.
Ainda tivemos tempo para brincar com os passageiros de um
cruzeiro no Guadiana acenando como se estivesse-mos num concerto rock, ao que
fomos prontamente correspondidos... a moral estava em cima e bem alta.
Depois arrancamos, agora sempre em alcatrão até ao penúltimo
ponto de paragem, na Foz do Odeleite, o ritmo ia alto e contamos sempre com o
apoio muito próximo da carrinha que nos acompanhou neste trajecto e nos filmou
(o Viegas nas funções de realizador), ao passarmos por Guerreiros do Rio o Nuno
desejou os bons dias a alguns moradores locais que se encontravam às portas de
casa... e para a nossa surpresa um senhor gritou-nos:
- "Vão trabalhar malandros!"
Gargalhada geral... esta foi mesmo das boas... tão longe de
casa e ainda há quem nos conheça.
Às 13.15 resolve-mos parar na Foz de Odeleite, íamos em bom
ritmo, mas houve quem quis parar um pouco para meter e vazar águas, tiramos as
fotos ao cruzamento do Guadiana com o Odeleite e fomos para mais umas valentes
subidas em alcatrão, passando por uma das nossas localidades preferidas
(Alcaria)... Como se costuma dizer é só alcaria...
Mais umas subidas até bem perto da aldeia do Azinhal e depois
grandes descidas até perto da Junqueira, depois Monte Francisco onde houve
pequenas divergências quanto ao caminho (alguns já estavam em território que
conheciam), resolvemos continuar a seguir o GPS.
A seguir Castro Marim com o maroto do Nuno a tentar e a
conseguir tirar-me do sério... já sabia onde estava e vai de dizer por aqui, e
por ali, tudo ao contrário do GPS...foi a sua vingançazinha ao que lhe fizemos
nestes 3 dias, grande maroto.
Pelas 15.00 concluímos o nosso Projecto Guadiana 2010, com a
chegada a Vila Real de Santo António, onde para minha grande surpresa, tinha a
família à espera, depois almoçamos e ainda tivemos tempo de pôr o nosso espanhol
em prática... devíamos estar afectados pela proximidade de Espanha.
No dia de hoje realizamos 80 km, tendo feito um
acumulado de subidas por volta dos 900 mt.
Tiramos mais umas fotos para mais tarde recordar e após
tomarmos o café, regressamos a Azeitão por volta das 17.00, já com a chuva por
companhia... que apenas nos deu tréguas durante o dia de hoje enquanto
pedalava-mos.
Eram 19.30 quando paramos na área de serviço de Aljustrel,
para lanchar e necessidades fisiomijatórias. E para o Nuno fumar um cigarrito...
finalmente (o homem é um animal de hábitos), ah ah... já me esquecia... ainda
fiz mais umas patifarias ao dorminhoco do Nuno.
Chegamos a Azeitão, mais propriamente a Vila Fresca de Azeitão,
pelas 22.00, após ter-mos feito cerca de 300 km a pedalar, com cerca de 3000 mt
de acumulado de subidas, pedalando cerca de 30 horas, no total das 67 horas que
durou o nosso projecto, fizemos "apenas" aproximadamente 500 km dentro da
carrinha.
Para o ano de 2011, ficou designado que se irão apresentar vários
projectos, sendo que o melhor será sujeito a sufrágio, o projecto escolhido será
o que faremos perto do nosso terceiro aniversário (21 de Junho de 2011), fica
desde já assinalado que a data final de entrega de projectos será até dia 31 de
Setembro, a votação será feita no blogue, desde o dia 1 ao dia 31 de Outubro, e
o Passeio Anual de aniversário será nos dias (10,11 e 12 de Junho de 2011)
*.
*Nota do Editor* . Poderá existir alguma mudança de data, em
virtude de alguma impossibilidade, por parte de algum CicloBeato
interessado.
Até para o ano!
E não deixem de pedalar connosco e comentar no blogue.
FILME CICLOBEATOS PROJECTO GUADIANA 2010
Após a realização do nosso segundo passeio anual de aniversário foi realizado um filme, no qual foi relatada toda a nossa aventura de três dias, e que nos levou de Elvas a Vila Real de Santo António ao longo de aproximadamente 300 km, deixo-vos agora com essa longa metragem, realizada por mim, espero que gostem.
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